Motivar os adeptos do FC Porto nunca foi tarefa fácil, muito menos quando a equipa atravessa um ciclo de resultados aquém das expectativas. A exigência do universo azul e branco está inscrita na própria história do clube: títulos, raça, entrega e um futebol condizente com os pergaminhos conquistados ao longo das décadas. Qualquer treinador que assuma o comando dos dragões precisa de compreender que o público do Dragão não se satisfaz com promessas — quer provas, quer vitórias.
Martín Anselmi, ainda em fase de adaptação ao futebol português, tem demonstrado alguma dificuldade em assimilar esse princípio basilar. As suas recentes declarações, onde relativiza estatísticas como remates à baliza, tentando ancorar o desempenho da equipa numa métrica vaga de "perigo criado", soam mais a racionalizações do que a diagnósticos estratégicos.
Não se motiva uma massa associativa apaixonada com discursos enigmáticos ou análises subjetivas. O adepto do FC Porto exige clareza, frontalidade e, acima de tudo, ação. Sabe ver quando a equipa tenta e falha, mas não tolera a apatia disfarçada de processo em construção. Sabe reconhecer quando um treinador é vítima das circunstâncias — mas também quando é refém das suas próprias ideias.
No atual contexto, é visível a desconexão entre a equipa técnica e a bancada. As palmas deram lugar ao silêncio, e o silêncio começa a ser substituído por assobios. Não se trata apenas de uma questão de resultados — trata-se da falta de identidade, da ausência de uma narrativa competitiva que inspire o coletivo e empolgue o adepto.
O caminho mais difícil para motivar os adeptos do FC Porto é precisamente aquele que agora se trilha: o da tentativa de convencer sem vencer, de explicar sem demonstrar, de liderar sem galvanizar. No Dragão, a retórica só acompanha a vitória. E essa, por enquanto, tarda.
É altura de mudar o discurso — e sobretudo o rendimento.
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