O ciclo de Jorge Jesus no comando técnico do
Al-Hilal SFC chegou ao fim. O treinador português, de 70 anos, foi demitido do
clube saudita nos primeiros dias de maio de 2025, na sequência da eliminação da
equipa nas meias-finais da Liga dos Campeões da Elite da AFC frente ao rival
Al-Ahli Saudi FC. A notícia, avançada por diversos meios de comunicação
sauditas e portugueses, marca o fim da segunda passagem de Jesus pelo gigante
de Riade, deixando-o livre no mercado numa altura em que o seu nome é fortemente
associado ao cargo vago de selecionador do Brasil.
A Saída Precipitada: As Razões por Trás da Demissão
Apesar de uma primeira temporada recheada de títulos no seu
regresso à Arábia Saudita, a continuidade de Jorge Jesus começou a ser
questionada devido a uma série de resultados e circunstâncias que culminaram na
sua saída prematura, cujo contrato se estendia até junho de 2026.
O Golpe na Champions Asiática
O ponto de viragem decisivo parece ter sido a derrota por
3-1 frente ao Al-Ahli, na segunda mão das meias-finais da principal competição
de clubes da Ásia, disputada a 29 de abril. A eliminação nesta fase crucial,
especialmente perante um rival doméstico, foi vista como um fracasso
significativo para um clube com as ambições e o investimento do Al-Hilal.
O jogo em si foi marcado por tensão e incidentes. A expulsão
do defesa senegalês Kalidou Koulibaly, por acumulação de amarelos após uma
entrada dura sobre Roger Ibañez, deixou o Al-Hilal reduzido a dez jogadores e
dificultou a tentativa de recuperação. Nas declarações pós-jogo, Jorge Jesus
atribuiu culpas à arbitragem jordana de Adham Makhadmeh, considerando que o
nível do árbitro não esteve à altura das equipas e que as suas decisões
contribuíram para o nervosismo e a má performance da sua equipa. Esta postura
de transferir responsabilidades pode não ter sido bem recebida pela direção do
clube, especialmente considerando outros fatores que já colocavam a sua posição
em cheque.
Embora a eliminação da Champions Asiática tenha sido o
gatilho aparente para a demissão , relatos indicam que o descontentamento já
vinha de trás. A derrota no dérbi contra o Al-Nassr de Cristiano Ronaldo e o
consequente atraso na corrida pelo título da Saudi Pro League já tinham gerado
críticas internas. A saída precoce da King's Cup, também aos pés do Al-Ittihad,
somou-se ao rol de objetivos falhados na presente temporada. A imprensa saudita
reportava "fúria generalizada" na administração do Al-Hilal
relativamente à gestão dos jogos e da época por parte de Jesus, com um consenso
crescente sobre a necessidade da sua saída. Assim, a derrota continental
funcionou como a justificação final para uma decisão que, possivelmente, já
estaria a ser ponderada.
Desempenho Doméstico e Interno
No campeonato saudita, o Al-Hilal encontrava-se na segunda
posição, a cinco ou seis pontos do líder Al-Ittihad, com apenas cinco jornadas
por disputar, tornando a revalidação do título uma tarefa muito difícil. Esta
performance doméstica, aquém das expectativas após a dobradinha da época anterior
, aumentou a pressão sobre o técnico português.
Adicionalmente, surgiram sinais de possível fricção interna.
Um incidente notório ocorreu durante a própria meia-final da Champions Asiática
contra o Al-Ahli, quando o extremo brasileiro Kaio Cesar, que tinha entrado aos
59 minutos, foi substituído por Jesus poucos minutos depois, logo após a
expulsão de Koulibaly. A reação "furiosa" de Cesar, pontapeando
garrafas de água e necessitando de ser empurrado para fora do campo por
colegas, sugere um potencial desgaste na relação entre o treinador e alguns
jogadores. Este tipo de episódio público pode indiciar problemas de gestão de
balneário ou comunicação, contribuindo para o cenário de "final
acrimonioso" descrito por algumas fontes.
A Sombra da Seleção Brasileira
Paralelamente aos desafios no clube, o nome de Jorge Jesus
foi consistentemente ligado ao cargo de selecionador do Brasil, vago após a
saída de Dorival Júnior. Várias fontes indicavam que Jesus via com bons olhos a
mudança para o comando da "canarinha", chegando a ser reportado que o
próprio treinador estaria a forçar uma rescisão amigável com o Al-Hilal para
facilitar essa transição. A necessidade da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) em garantir um novo técnico antes da data FIFA de junho adicionava
urgência ao cenário.
Contudo, existiam narrativas contraditórias. Enquanto alguns
relatos colocavam Jesus como prioridade da CBF , outros afirmavam que o
principal alvo era Carlo Ancelotti (então no Real Madrid) e que Jesus seria
apenas um plano B ou C. A imprensa portuguesa chegou a reportar versões
distintas sobre a iniciativa da rescisão: o jornal 'A Bola' noticiava a
demissão por parte do clube, enquanto o 'Record' afirmava que Jesus teria
pedido para sair. Esta ambiguidade pode refletir a complexidade das negociações
ou uma situação em que ambas as partes estavam insatisfeitas, culminando numa
saída que servia, de certa forma, os interesses de ambos. A especulação
constante em torno do Brasil certamente criou um ambiente de instabilidade.
Balanço da Segunda Passagem de Jesus pelo Al-Hilal
Jorge Jesus regressou ao Al-Hilal a 1 de julho de 2023, para
a sua segunda passagem pelo clube que já orientara entre 2018 e 2019. A sua
primeira época deste segundo ciclo foi coroada de sucesso doméstico,
conquistando a Saudi Pro League e a King's Cup (dobradinha) , além de duas
Supertaças da Arábia Saudita.
Registo de Jorge Jesus na Segunda Passagem pelo Al-Hilal
(Jul 2023 - Mai 2025)
Competição |
Jogos |
Vitórias |
Empates |
Derrotas |
Golos Marcados |
Golos Sofridos |
% Vitórias |
Títulos Ganhos (neste período) |
Total (aprox.) |
104 |
80 |
14 |
10 |
282 |
95 |
76.92% |
2x Supertaça, 1x King's Cup |
Saudi Pro League (24/25) |
29 |
19 |
5 |
5 |
N/A |
N/A |
65.52% |
- |
AFC Champions L. (24/25) |
12 |
9 |
1 |
2 |
N/A |
N/A |
75.00% |
- |
King's Cup (24/25) |
3 |
2 |
0 |
1 |
N/A |
N/A |
66.67% |
- |
Supertaça (24/25) |
2 |
2 |
0 |
0 |
N/A |
N/A |
100.00% |
Supertaça Saudita 2024 |
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Nota: Dados agregados e parciais baseados em. A % de
vitórias total refere-se ao agregado da 2ª passagem até à data da demissão.
No entanto, a temporada 2024/2025 revelou-se dececionante
nos principais palcos. A eliminação na Champions Asiática e na Taça, aliada à
provável perda do campeonato para o Al-Ittihad, contrastou fortemente com os
sucessos anteriores e com o forte investimento do clube, precipitando o fim da
ligação.
Reações e Confirmações
A demissão de Jorge Jesus foi amplamente noticiada pela
imprensa saudita e portuguesa , com fontes a confirmarem que foi alcançado um
acordo para a rescisão do contrato. No entanto, até ao momento da redação desta
notícia, não foram encontradas declarações oficiais diretas, quer do Al-Hilal
quer do próprio Jorge Jesus, confirmando ou comentando especificamente a
demissão.
As últimas declarações públicas de Jesus antes da notícia da
sua saída foram as críticas à arbitragem após a derrota com o Al-Ahli. Este
silêncio oficial das partes envolvidas é relativamente comum nestas situações,
muitas vezes devido a negociações finais sobre os termos da rescisão ou acordos
de confidencialidade. Contudo, este vazio informativo permite que as narrativas
veiculadas pela imprensa, como a forte ligação ao Brasil ou os conflitos
internos, ganhem preponderância na explicação dos eventos.
O Futuro Imediato: Solução Interina e Sucessores
Cogitados
Para colmatar a saída de Jesus, o Al-Hilal nomeou Mohammed
Al-Shalhoub, uma figura histórica e lenda do clube, como treinador interino.
Al-Shalhoub, que passou toda a sua carreira de jogador no Al-Hilal, terá a
missão de estabilizar a equipa enquanto a direção procura um sucessor
permanente.
A lista de potenciais substitutos veiculada pela imprensa
demonstra a elevada ambição do clube saudita, que procura um treinador de
"classe mundial" , especialmente tendo em vista a participação no
Mundial de Clubes da FIFA em junho/julho. Entre os nomes mencionados estão:
- Carlo
Ancelotti: O técnico italiano do Real Madrid (e alvo da CBF) surge
como um dos favoritos, com relatos de uma oferta astronómica de 50 milhões
de euros anuais. No entanto, a sua disponibilidade é a grande questão.
- Tite:
O antigo selecionador brasileiro também foi apontado como alvo.
- Marco
Silva: O atual treinador do Fulham.
- Massimiliano
Allegri: O experiente técnico italiano, ex-Juventus.
- Nuno
Espírito Santo: O português, ex-Al-Ittihad e atualmente no Nottingham
Forest.
- Razvan
Lucescu: Treinador romeno que já passou pelo Al-Hilal e está no PAOK.
- Ramón
Díaz: Técnico argentino que também já orientou o clube em duas
ocasiões.
A diversidade e o calibre dos nomes demonstram a capacidade financeira do Al-Hilal, mas também a dificuldade em atrair os nomes de topo absoluto, que frequentemente têm outros compromissos de alto perfil. A necessidade de encontrar um substituto rapidamente, antes do Mundial de Clubes , pode levar o clube a optar por uma solução mais pragmática e acessível.
A saída de Jorge Jesus cria um período de incerteza para o
Al-Hilal numa fase crucial, com a aproximação do Mundial de Clubes. A escolha
do novo treinador será fundamental para as aspirações do clube na competição e
para a próxima temporada.
Para Jorge Jesus, a demissão representa o fim de um capítulo
na Arábia Saudita e abre, de forma definitiva, a porta para a Seleção
Brasileira. Estando agora livre contratualmente, torna-se uma opção muito
concreta e mais simples para a CBF, caso as negociações com Ancelotti não se
concretizem. A sua experiência e o sucesso anterior no Flamengo são trunfos
importantes, embora a sua performance recente no Al-Hilal possa levantar
algumas questões. A forma como a saída ocorreu, pouco depois da eliminação na
Champions Asiática e com a necessidade premente do Brasil em nomear um
selecionador, sugere uma possível conveniência mútua no 'timing' da decisão,
independentemente de quem a terá iniciado formalmente.
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