Rússia Lança o Maior Ataque Aéreo Contra a Ucrânia Desde 2022, Deixando Pelo Menos 12 Mortos em Ofensiva Massiva

Uma Noite de Terror e Destruição

Na madrugada de domingo, 25 de maio de 2025, a Rússia desencadeou o que as autoridades ucranianas descreveram como o maior ataque aéreo contra a Ucrânia desde o início da invasão em larga escala em 2022. Esta ofensiva massiva, que utilizou uma combinação de mísseis e drones, resultou na morte de pelo menos 12 pessoas, incluindo crianças, e deixou dezenas de feridos em diversas regiões do país. A magnitude deste ataque estabelece um novo patamar de intensidade no conflito em curso, marcando um dos momentos mais sombrios para a população civil ucraniana.  

A ofensiva ocorreu em um momento particularmente sensível: no terceiro dia de uma rara e significativa troca de prisioneiros entre os dois países. Esta troca representava um dos poucos pontos de cooperação tangível desde o início do conflito, adicionando uma camada de complexidade e contradição ao cenário diplomático. A simultaneidade de um gesto humanitário com uma escalada militar tão brutal levanta questões profundas sobre as intenções e a estratégia de Moscou.  

A escala deste ataque, descrito como o maior desde o início da invasão em grande escala, aponta para uma intensificação significativa da estratégia militar russa. Não se trata de um ataque rotineiro, mas de uma investida deliberada e de alto volume que parece ter como objetivo sobrecarregar as defesas aéreas ucranianas, esgotar seus estoques de mísseis ou, ainda, enviar uma mensagem contundente de pressão militar contínua. Esta ação testa não apenas as capacidades defensivas da Ucrânia, mas também a resiliência de sua população e infraestrutura civil, buscando instigar o medo e, potencialmente, minar o moral. O fato de ser o maior ataque em anos sugere uma mudança estratégica ou uma fase de intensificação do conflito.

A Noite de Terror: Detalhes da Ofensiva

A Força Aérea da Ucrânia informou que um total de 367 armas de ataque aéreo foram lançadas pela Rússia durante a noite de sábado para domingo, 25 de maio de 2025. Este arsenal incluía 69 mísseis e 298 drones. As defesas aéreas ucranianas conseguiram interceptar uma parte significativa do ataque, derrubando 47 mísseis e 266 drones.  

Embora a capital, Kiev, tenha sido o foco principal da ofensiva, com sirenes de ataque aéreo soando por horas e edifícios civis em vários distritos sendo danificados , o ataque foi generalizado. O ministro do Interior ucraniano, Igor Klimenko, informou que 13 regiões foram atingidas em todo o país. Além de Kiev, ataques foram relatados em 22 locais, com quedas de destroços em 15 locais. Regiões como Mykolaiv, Khmelnytskyi e Zhytomyr também foram severamente afetadas.  

Este foi o segundo ataque em larga escala consecutivo, ocorrendo um dia após outra onda de ofensivas russas que matou pelo menos 13 pessoas. O porta-voz da Força Aérea da Ucrânia, Yuriy Ihnat, descreveu o ataque de 25 de maio como "o ataque mais massivo em termos de número de armas de ataque aéreo no território da Ucrânia desde o início da invasão em escala total em 2022", superando o recorde anterior de 273 drones lançados em uma única noite na semana anterior.  

A grande quantidade de armas lançadas, mesmo com uma alta taxa de interceptação, sugere uma estratégia russa deliberada de saturação. O objetivo parece ser sobrecarregar as defesas aéreas ucranianas, forçando-as a gastar seus valiosos e caros mísseis interceptores. Esta tática visa esgotar os recursos de defesa aérea da Ucrânia, tornando futuros ataques potencialmente mais bem-sucedidos e deixando mais áreas vulneráveis. Além disso, impõe um fardo econômico significativo à Ucrânia e aos seus aliados, que fornecem esses interceptores. O volume elevado de ataques também aumenta a probabilidade estatística de que algumas armas consigam atingir seus alvos, resultando em baixas mesmo com uma defesa eficaz.

O fato de 13 regiões e 22 locais terem sido alvos, para além de Kiev, indica um objetivo mais amplo do que apenas atingir alvos militares. Ataques tão generalizados visam espalhar o medo e a ansiedade entre a população civil, interrompendo a vida diária e a atividade econômica em todo o país. Ao atingir múltiplas regiões, a Rússia sobrecarrega os serviços de emergência, as capacidades de reparação de infraestruturas e os recursos nacionais da Ucrânia, criando uma sensação de ameaça constante e minando o moral em escala nacional.

A tabela a seguir apresenta um balanço detalhado dos armamentos utilizados no ataque de 25 de maio de 2025:

Balanço do Ataque Aéreo Russo (25 de Maio de 2025)

Tipo de Armamento

Lançados

Interceptados

Mísseis

69

47

Drones

298

266

Total

367

313

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O Preço Humano: Vítimas e Relatos da População

O ataque resultou em pelo menos 12 mortos em toda a Ucrânia, com dezenas de feridos. Entre as vítimas fatais, a tragédia se aprofunda com a confirmação de pelo menos três crianças, com idades de 8, 12 e 17 anos, que perderam a vida em um bombardeio na região de Zhytomyr. Na região de Khmelnytskyi, quatro pessoas morreram e cinco ficaram feridas, enquanto um homem foi encontrado morto na região de Mykolaiv após um ataque de drone. Na região de Kiev, os serviços de emergência descreveram a noite como de "terror", com quatro mortos e 16 feridos, incluindo as três crianças. A contagem específica de vítimas, especialmente a perda de crianças, sublinha a natureza indiscriminada dos ataques e seu profundo custo humanitário.  


A dimensão humana da tragédia é palpável nos relatos dos sobreviventes. Em Markhalivka, a sudoeste de Kiev, Tetiana Yankovska, uma aposentada de 65 anos, descreveu que "toda a rua estava em chamas" e que havia "destroços no travesseiro da cama onde uma criança deveria dormir". Esta imagem choca pela sua crueza e ilustra a proximidade da morte e da destruição nas vidas dos civis. Outro aposentado, Oleksander, de 64 anos, expressou sua descrença em negociações, afirmando: "Não precisamos de negociações, e sim de armas, muitas armas, para contê-los. A Rússia só entende a força, nada mais". Esses testemunhos diretos adicionam um elemento visceral ao relatório, permitindo que o público se conecte com o sofrimento pessoal causado pelo conflito e revelando o sentimento arraigado entre a população afetada sobre a resolução do confronto.  

A ênfase nas vítimas civis, particularmente nas crianças, não é apenas um relato factual, mas um elemento central na narrativa do conflito. O elevado número de baixas civis, e especialmente a morte de crianças, serve a múltiplos propósitos. Para a Ucrânia, é um apelo poderoso por condenação internacional e aumento da ajuda humanitária e militar. Para a Rússia, embora negue ostensivamente alvejar civis, o impacto em áreas civis gera terror, visando quebrar o moral ucraniano e pressionar o governo. Este trágico custo humano torna-se um ponto central de discórdia e um catalisador para esforços diplomáticos ou sanções internacionais.

O depoimento de Oleksander, que expressa a necessidade de armas em vez de negociações, reflete uma profunda desilusão com as soluções diplomáticas entre segmentos da população ucraniana. Este sentimento evidencia uma crença crescente dentro da Ucrânia de que a força militar, em vez da negociação, é o único caminho viável para conter a agressão russa. Tal perspectiva pode influenciar o apoio público a um conflito prolongado e pressionar o governo ucraniano a priorizar soluções militares em detrimento de aberturas diplomáticas, complicando futuros esforços de paz. Também sublinha o imenso custo psicológico de viver sob ameaça constante.

Reações e o Cenário Diplomático Complexo

Em resposta aos ataques, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um apelo urgente à comunidade internacional, pedindo "pressão realmente forte sobre as autoridades russas" e a imposição de sanções contra "as fragilidades da economia russa". Ele criticou o "silêncio dos Estados Unidos e de outros países do mundo", afirmando que tal inação "apenas encoraja [o presidente russo Vladimir] Putin". Zelensky também solicitou que os EUA, países europeus e "todos que buscam a paz" demonstrem determinação para que Putin "termine a guerra". As declarações de Zelensky são um apelo direto por um apoio internacional mais robusto, refletindo a necessidade contínua da Ucrânia por ajuda militar e pressão econômica sobre a Rússia. Sua crítica ao "silêncio" sugere uma percepção de falta de urgência ou compromisso por parte de alguns parceiros ocidentais.  

A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, também se manifestou, pedindo maior "pressão internacional" sobre a Rússia e lamentando as vítimas, incluindo crianças. Essa reação internacional, embora presente, destaca o debate contínuo sobre a eficácia e a suficiência da pressão internacional atual.  

O ataque ocorreu poucas horas antes da conclusão da última etapa de uma grande troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia. Esta foi a maior troca de prisioneiros de guerra desde o início da invasão russa, no formato de 1.000 por 1.000, acordada em Istambul na semana anterior. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a troca de 303 soldados prisioneiros por um número igual de militares ucranianos neste domingo, seguindo trocas anteriores no sábado (307 de cada lado) e na sexta-feira (270 soldados e 120 civis de cada lado). A troca de prisioneiros e corpos de militares mortos é um dos poucos pontos de cooperação entre Kiev e Moscou. Este pano de fundo diplomático oferece um contraste gritante com a agressão militar, sublinhando a natureza complexa e muitas vezes contraditória do conflito, onde uma cooperação humanitária limitada coexiste com uma guerra brutal.  

O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, afirmou ter sido atacado por drones ucranianos neste domingo, interceptando ou destruindo cerca de 100 drones de ataque. A maioria desses drones foi destruída sobre as regiões centro e sul da Rússia, com 13 sobre as regiões de Moscou e Tver. No dia anterior, a Defesa russa afirmou ter destruído 94 UAVs ucranianos sobre seu território. O chanceler russo, Sergey Lavrov, também afirmou na sexta-feira que Moscou está preparando um documento com "as condições de um acordo duradouro, global e de longo prazo sobre a solução" do conflito, a ser transmitido ao governo ucraniano após a troca de prisioneiros. Essas declarações fornecem a narrativa russa, que tenta enquadrar suas ações como defensivas ou retaliatórias, e insinua futuras aberturas diplomáticas apesar da agressão militar em curso.  

O aspecto mais marcante é o momento do ataque: a Rússia lançou sua maior ofensiva aérea enquanto simultaneamente concluía uma grande troca de prisioneiros. Esta não é uma coincidência; é uma escolha deliberada. Esta justaposição sugere uma estratégia cínica por parte da Rússia para compartimentalizar suas ações militares de gestos humanitários ou diplomáticos limitados. Isso sinaliza que a pressão militar continuará implacavelmente, independentemente de qualquer boa vontade gerada pelas trocas de prisioneiros. Também implica que a Rússia vê essas trocas como transacionais, e não como indicativas de um desejo mais amplo de desescalada ou paz, talvez usando-as como um meio de obter informações sobre seu próprio pessoal capturado enquanto mantém o domínio militar.  



As alegações imediatas da Rússia de ter interceptado drones ucranianos em seu próprio território após seu ataque massivo à Ucrânia servem a um propósito narrativo específico. Ao relatar ataques de drones ucranianos, a Rússia tenta enquadrar sua própria ofensiva massiva como uma resposta "recíproca" ou "justificada", visando desviar as críticas internacionais e se apresentar como vítima de agressão. Esta estratégia narrativa busca igualar o patamar moral, apesar da vasta disparidade na escala e no impacto dos ataques, e legitimar sua invasão em larga escala em curso. Também prepara a opinião pública para a continuidade da ação militar, sugerindo uma ameaça contínua da Ucrânia.  

A declaração de Lavrov sobre a preparação de um documento para uma "solução duradoura, global e de longo prazo" contrasta fortemente com a escalada militar simultânea e sem precedentes. Essa contradição ressalta uma estratégia diplomática russa complexa e potencialmente enganosa. Sugere que, embora a Rússia possa estar aberta a "negociações", estas provavelmente serão conduzidas a partir de uma posição de força militar, usando a agressão contínua como alavanca. A "solução" proposta por Moscou pode ser em seus próprios termos, tornando difíceis negociações de paz genuínas e equitativas, e levantando ceticismo sobre as verdadeiras intenções da Rússia para a desescalada. Pode também ser uma tentativa de projetar uma imagem de razoabilidade para a comunidade internacional enquanto persegue objetivos militares.  

Implicações e Próximos Passos

O ataque de 25 de maio de 2025 sublinha a escalada contínua do conflito na Ucrânia e o sofrimento inabalável da população civil. A intensidade e a frequência dos ataques aéreos russos representam um desafio constante para as defesas aéreas ucranianas e para a resiliência do país.

Os apelos de Zelensky por maior pressão e sanções contra a Rússia, bem como por mais armas, reiteram a necessidade crítica de apoio internacional contínuo para a Ucrânia. A forma como a comunidade global responderá a esta escalada será crucial para o futuro do conflito.

Os ataques sustentados e em larga escala, particularmente o descrito como o "maior desde 2022", sugerem o compromisso da Rússia com uma guerra de atrito, visando exaurir os recursos da Ucrânia e a disposição dos aliados ocidentais em fornecer ajuda. Esta estratégia exerce uma imensa pressão sobre as nações ocidentais para manter e até aumentar seu apoio militar e financeiro à Ucrânia. Isso as força a confrontar os custos de longo prazo do conflito e as potenciais consequências da "fadiga" em seu compromisso, impactando diretamente a sustentabilidade da defesa da Ucrânia. Os ataques não se limitam apenas ao dano imediato, mas visam um desgaste estratégico a longo prazo.

O contraste entre a agressão militar da Rússia e a fala de Lavrov sobre uma "solução de longo prazo" cria um clima de profunda desconfiança. Essa dualidade torna quaisquer negociações de paz genuínas extremamente difíceis. A Ucrânia dificilmente negociará sob tamanha pressão militar, vendo isso como uma tentativa de ditar termos em vez de buscar uma resolução justa. Os ataques minam qualquer potencial de desescalada e sugerem que a Rússia pretende continuar usando a força militar como sua principal ferramenta, mesmo enquanto oferece ramos de oliveira retóricos, tornando um avanço diplomático altamente improvável no curto prazo.

 

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