O Manchester United deveria dispensar três heróis do Lyon e contratar a dupla que os puniu
Enquanto os Diabos Vermelhos seguem atolados em um ciclo de decisões duvidosas, talvez a melhor saída esteja em virar a página — inclusive sobre nomes que pareciam promessas eternas.
A piada mais repetida nas redes sociais após a derrota do Manchester United para o Coventry foi: "o Lyon agradece". E com razão. Porque no fundo, o que se viu em campo foi um triste lembrete de que o United ainda vive preso ao passado — e pior, a um passado que nem sequer foi glorioso.
Amad Diallo, Hannibal Mejbri e Donny van de Beek são três jogadores que, em algum momento, alimentaram a esperança da torcida. Amad chegou como prodígio da Atalanta, Hannibal com status de capitão das seleções de base da Tunísia, e Van de Beek... bem, ele foi semifinalista da Champions com o Ajax, lembra?
Todos passaram pelo Lyon — ou melhor, pelo radar do clube francês — seja por empréstimos, negociações ou rumores. E agora, enquanto o United agoniza, a melhor decisão que o clube poderia tomar seria deixá-los ir definitivamente. Sem culpa. Sem apego. E sem olhar para trás.
Porque o que realmente importa é o que aconteceu naquele fatídico jogo da FA Cup: Simms e O’Hare, os algozes do Coventry, foram os protagonistas. Eles não têm o selo Ajax, não foram exaltados como “o novo Pogba” ou “o próximo Bruno Fernandes”. Mas jogaram mais, decidiram mais e mostraram ter aquilo que falta a muitos no elenco vermelho: efetividade, coragem e foco no jogo.
Heróis de cartaz, futebol de figurante
Vamos começar com Amad Diallo. O marfinense é habilidoso, dribla bem, tem bons momentos — mas vive eternamente na promessa. Contra o Coventry, entrou como se estivesse jogando um amistoso em setembro. Sem explosão, sem intensidade, como se o jogo não valesse nada. Talvez porque, para ele, realmente não valha mais nada vestir a camisa do United.
Hannibal Mejbri, por sua vez, sempre foi mais símbolo de atitude do que de futebol real. Corre, grita, briga — mas raramente entrega. A ilusão de que ele poderia ser uma espécie de “pitbull técnico” já não se sustenta. O empréstimo ao Sevilla, que deveria ser sua chance de virar adulto, só reforçou o óbvio: é limitado, inconstante e não tem lugar no futuro do clube.
E então chegamos a Donny van de Beek. O caso mais triste de todos. Contratado por quase €40 milhões, o holandês nunca se encaixou. Nem com Solskjaer, nem com Ten Hag, nem em empréstimos. O Lyon até tentou recuperar seu futebol, mas ele parece ter sido engolido pelo próprio silêncio. Van de Beek é o jogador que corre certo, mas sem alma. Posiciona-se bem, mas não impacta. É como uma sombra do que poderia ter sido.
A verdade cruel é: nenhum dos três tem mais espaço no United — nem no elenco, nem na mentalidade de reconstrução. A continuidade desses jogadores, mesmo como reservas, é um sintoma do comodismo institucional que define o clube nos últimos anos.
Simms e O’Hare: humildade com impacto
Enquanto isso, os “vilões” de Old Trafford foram simplesmente... melhores. Ellis Simms, formado no Everton, é um atacante direto, físico, com leitura de jogo e presença de área. Marcou dois gols e mostrou que, mesmo fora do radar da elite, pode ser útil em qualquer time que saiba o que quer.
Callum O’Hare é ainda mais interessante. Inteligente, ágil, com timing e bom passe. Dominou o meio-campo do United como se fosse titular do City. E isso diz mais sobre o United do que sobre ele, é verdade — mas também mostra que talento existe fora do circuito óbvio das grandes contratações.
O que diferencia O’Hare e Simms de nomes como Amad, Hannibal e Van de Beek não é talento bruto — é propósito. É fome. É impacto imediato. São jogadores que não precisam de cinco temporadas para “mostrar seu potencial”. Eles vão e entregam.
Um United que precisa de faxina
E talvez esse seja o maior problema do Manchester United atual: confunde potencial com realidade. Acredita que, só porque um jogador foi bem nas categorias de base ou teve um destaque relâmpago no Ajax, ele merece cinco anos de paciência. Mas o futebol de elite não tem tempo pra isso.
O que o United precisa, com urgência, é de um choque de pragmatismo. Parar de contratar nomes e buscar soluções. Deixar de lado a vaidade do "projeto europeu sofisticado" e montar um time que saiba competir. Que saiba sofrer. Que não tome empate do Coventry nos acréscimos e fique à beira do colapso emocional.
Talvez O’Hare e Simms nunca serão estrelas de um time campeão da Premier League. Mas neste momento, eles representam mais para o espírito de um time vencedor do que três heróis de papel reciclado.
A nova mentalidade: cortar sem medo
Dispensar Amad, Hannibal e Van de Beek não é uma afronta ao passado. É um passo em direção ao futuro. Assumir que certas apostas não deram certo é um ato de coragem — e um gesto de inteligência administrativa.
Mais do que buscar novos galácticos ou investir mais £100 milhões em promessas, o Manchester United precisa de uma limpeza interna honesta, seguida de contratações pontuais de jogadores que sabem o que fazer com a bola quando o jogo está quente.
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