Especialistas do setor imediatamente questionaram a plausibilidade de uma cadeia de suprimentos inteiramente nacional
Anúncio do Trump Mobile
No Trump Tower, em Nova Iorque, Donald Trump Jr. e Eric Trump apresentaram o Trump Mobile como MVNO (operadora virtual), oferecendo um plano mensal de US$ 47,45 e prevendo o lançamento em setembro de um smartphone dourado, o T1 Phone, ao preço de US$ 499 . A iniciativa foi justificada como uma resposta “à falta de inovação no setor de telefonia móvel” e incorporou elementos de marketing patriótico, como o número do plano alusivo aos mandatos presidenciais (45.º e 47.º) e o slogan “feito na América”.
O website oficial afirmava que o T1 seria “fabricado nos Estados Unidos”, com call centers no Missouri e parcerias com as principais operadoras de rede. Essa promessa visava atrair consumidores conservadores, reforçando a imagem de Trump como defensor da indústria nacional.
Retirada das alegações de “Made in USA”
Em menos de 48 horas, o trecho “fabricado nos EUA” desapareceu do site, sendo substituído por declarações mais vagas, como “proudly American design” e “brought to life right here in the USA”. A mudança foi confirmada por uma atualização discreta no texto da página de pré-venda, sem comunicado oficial explicando o motivo.
Especialistas do setor imediatamente questionaram a plausibilidade de uma cadeia de suprimentos inteiramente nacional. Francisco Jeronimo, analista da IDC, afirmou que “montar componentes importados nos EUA não equivale a fabricação integral” e apontou que “a ausência de fábricas de smartphone em escala nos EUA torna o ‘Made in USA’ impraticável”. Outras empresas de tecnologia que tentaram montagens locais, como Apple e Google, também enfrentaram limitações semelhantes.
Desafios técnicos e de cadeia de suprimentos
A China concentra cerca de 90 % da montagem global de smartphones e 80 % da produção de componentes — chips, placas-mãe, módulos de câmera — essenciais ao produto final. Mesmo com incentivos federais como o CHIPS Act, grande parte da infraestrutura de fabricação de eletrônicos de consumo ainda está no exterior.
Relatórios de teardown indicam que o T1 Phone é um rebrand do modelo Wingtech Revvl 7 Pro 5G, amplamente produzido na China, vendido nos EUA por operadoras como a T-Mobile por cerca de US$ 250 — metade do preço anunciado. Analistas estimam que, caso haja montagem mínima nos EUA, ela se limite à inserção de componentes prontos em carcaças nacionais, estratégia insuficiente para atender aos critérios da FTC.
Regulamentação da Federal Trade Commission
A FTC, através do 16 C.F.R. § 323, estabelece que um produto só pode ostentar “Made in USA” se “todo ou quase todo” o processo — desde matéria-prima até montagem — ocorrer no país. Em casos semelhantes, empresas como Stanley Black & Decker e Frito-Lay foram multadas e obrigadas a reformular sua comunicação de origem.
Segundo o presidente da agência, Brendan Carr, o comitê não manteve qualquer contato com a Casa Branca sobre o Trump Mobile e garantiu que aplicará as normas vigentes caso receba queixas formais. Entretanto, grupos de defesa do consumidor já preparam petições por publicidade enganosa, citando o histórico de produtos Trump que anunciaram origem americana mas foram fabricados na China.
Reações do mercado e perspectivas para consumidores
Após o rebranding, analistas revisaram para baixo as projeções de vendas: a Piper Sandler reduziu sua estimativa em 35 %, projetando 250 000 unidades vendidas em vez de 380 000, citando incerteza quanto ao valor agregado do dispositivo. O adiamento do lançamento de agosto para “fim de 2025” também gerou insatisfação entre pré-compradores .
Especialistas recomendam aos consumidores ler atentamente o rótulo de origem, buscar análises independentes (como teardown da iFixit) e comparar especificações antes de adquirir o T1 . Marcas consolidadas como Samsung e Motorola mantêm transparência sobre fabricação e componentes, oferecendo alternativas com redes de suporte e garantia amplas.