O Que Fazer Durante e Após um Ataque de Pânico
Desvendando o Ataque
de Pânico
Um ataque de pânico é uma experiência avassaladora,
caracterizada por um período breve e abrupto de angústia, ansiedade ou medo
extremos. Embora a duração média de uma crise varie de 15 a 30 minutos, podendo
estender-se a até uma hora, os sintomas geralmente atingem o pico em poucos
minutos. A natureza central de um ataque de pânico reside no disparo do
"alarme" cerebral – a região responsável pelo controle das emoções e
da liberação de adrenalina – sem que haja um perigo real iminente. Isso provoca
uma intensa sensação de medo e mal-estar, preparando o organismo para uma
resposta de "luta ou fuga" que é desproporcional à situação. Essa
profunda desconexão entre a percepção de perigo e a ausência de uma ameaça
concreta é um aspecto fundamental para compreender e desmistificar a
experiência do pânico, auxiliando as pessoas a reorientar sua compreensão do
que estão a vivenciar.
Sintomas físicos e psicológicos
comuns
Os sintomas de um ataque de pânico são variados e
intensos. Fisicamente, podem incluir aceleração dos batimentos cardíacos e da
respiração, falta de ar, pressão ou dor no peito, palidez, suor frio, tontura,
náusea ou desconforto abdominal, pernas bambas, formigamento, tremores,
calafrios ou ondas de calor, e sensação de engasgo. Em casos mais intensos,
pode ocorrer desmaio ou vômito no pico da crise.
No aspecto psicológico, os sintomas abrangem um medo
avassalador de morrer, de perder o controle ou de "enlouquecer", além
de sensações de estar "fora do corpo" (desrealização) ou de estar
"desligado de si mesmo" (despersonalização). É importante notar que,
para que um episódio seja diagnosticado como ataque de pânico, é necessário que
pelo menos quatro desses sintomas ocorram simultaneamente. A intensidade desses
sintomas físicos pode mimetizar sinais de problemas médicos graves, como
questões cardíacas, o que frequentemente leva as pessoas a procurar emergências
médicas em busca de causas orgânicas para seus sintomas. Essa busca por
explicações físicas é uma reação compreensível à gravidade das sensações
vivenciadas, validando o sofrimento, mas também sublinhando a necessidade de
uma compreensão mais ampla da origem psicológica do quadro.
Diferença entre ataque de pânico e
transtorno do pânico
Um ataque de pânico isolado é um episódio único de
medo intenso, e muitas pessoas experimentam tais ataques e se recuperam sem a
necessidade de tratamento. No entanto, o Transtorno do Pânico (TP) é uma
condição mais complexa, caracterizada por ataques de pânico recorrentes,
frequentemente acompanhados de preocupação excessiva com futuros ataques e/ou
modificações significativas de comportamento para evitar situações que poderiam
desencadeá-los. Esse medo antecipatório de novas crises pode levar a um
sofrimento psíquico intenso e a mudanças comportamentais importantes.
O ciclo vicioso do medo e da evitação é uma
característica central do Transtorno do Pânico. A ansiedade antecipatória, ou
seja, o medo da ocorrência de novos ataques, leva a modificações significativas
de comportamento e a uma evitação sistemática de situações percebidas como
ameaçadoras. Embora essa evitação possa parecer protetora a curto prazo, ela
paradoxalmente alimenta e intensifica o ciclo de pânico a longo prazo, podendo
resultar em agorafobia e prejuízos significativos na qualidade de vida. O
Transtorno do Pânico afeta cerca de 2% a 3% da população anualmente, sendo
aproximadamente duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, e
geralmente se inicia no final da adolescência ou início da idade adulta.
A natureza assustadora, mas não
perigosa, dos ataques
É fundamental compreender que, embora sejam
extremamente desconfortáveis e assustadores, os ataques de pânico não são
perigosos do ponto de vista médico e não representam risco de vida. É crucial
lembrar que eles são temporários e sempre passarão.
A reasseguração factual de que os ataques não são
perigosos e que irão passar é um pilar para o enfrentamento. Essa compreensão,
combinada com o conhecimento sobre o sistema de "alarme" cerebral que
dispara sem perigo real , capacita o indivíduo a praticar a aceitação em vez da
resistência. A resistência, paradoxalmente, tende a intensificar os sintomas.
Ao internalizar que as sensações físicas, por mais intensas que sejam, não são
prejudiciais, as pessoas podem começar a reduzir o "combustível" – o
medo dos próprios sintomas – que perpetua o ataque, estabelecendo uma base
cognitiva para estratégias de reestruturação.
Tabela 1: Sintomas Comuns de um Ataque de Pânico
Categoria de Sintoma |
Exemplos de Sintomas |
Físicos |
Aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração,
falta de ar, pressão ou dor no peito, palidez, suor frio, tontura, náusea ou
desconforto abdominal, pernas bambas, formigamento, tremores, calafrios ou
ondas de calor, sensação de engasgo, desmaio ou vômito. |
Psicológicos/Cognitivos |
Sensação de estar “fora do corpo” (desrealização) ou
“desligado de si mesmo” (despersonalização), medo de morrer, medo de “perder
o controle” ou "enlouquecer", angústia, ansiedade ou medo extremos.
|
Critério Diagnóstico Chave |
Pelo menos quatro desses sintomas devem ocorrer
simultaneamente para um diagnóstico de ataque de pânico. |
Esta tabela oferece uma visão geral rápida e
organizada dos sintomas, facilitando o reconhecimento e a autoidentificação. Ao
listar explicitamente as sensações físicas, ela valida a experiência do
indivíduo, que muitas vezes pode ser confusa e assustadora, mimetizando
condições médicas sérias. Essa clareza é fundamental para que as pessoas possam
buscar a ajuda adequada e aplicar estratégias de enfrentamento de forma mais eficaz.
2. Durante a Crise: Estratégias de
Ação Imediata
No auge de um ataque de pânico, a sensação de perda de
controle pode ser avassaladora. No entanto, existem estratégias imediatas que
podem ser empregadas para minimizar a intensidade e a duração do episódio,
ajudando a pessoa a retomar o controle.
Técnicas de Respiração para acalmar
o sistema nervoso
Controlar a respiração é uma das ações mais
fundamentais durante um ataque de pânico. Sintomas respiratórios, como a
sensação de falta de ar, são um componente significativo das crises e
desempenham um papel crucial na sua progressão. A respiração rápida e
superficial pode levar à hiperventilação, impedindo a eliminação adequada de
gás carbônico e intensificando o medo e a sensação de sufocamento.
Ao controlar ativamente a respiração, as pessoas podem
intervir diretamente na cascata fisiológica do pânico, prevenindo a
hiperventilação e o desconforto que ela causa. Essa regulação física, por sua
vez, envia sinais de calma ao cérebro, ajudando a quebrar o ciclo de feedback
entre os sintomas físicos e a escalada do medo. Dominar essas técnicas
proporciona uma sensação tangível de controle, o que é vital quando se sente
sobrecarregado e "fora de controle" durante um ataque.
As técnicas recomendadas incluem:
- Respiração
Diafragmática (Abdominal): Inspire lentamente enquanto conta até quatro,
focando em encher a barriga e não o peito. Em seguida, expire lentamente,
contando até quatro novamente. Mantenha a concentração nesses
procedimentos até que a respiração se estabilize. Esta técnica pode ser
utilizada tanto durante uma crise quanto preventivamente.
- Técnica
4-7-8:
Inspire por 4 segundos, prenda a respiração por 7 segundos e expire por 8
segundos. Este é um excelente exercício para controlar a ansiedade
rapidamente.
- Respiração
Lenta e Profunda (Geral): Concentrar-se em respirar lentamente para dentro
e para fora, contando até cinco, também pode ser eficaz para acalmar o
sistema nervoso.
Tabela 2: Técnicas de Respiração para Alívio Imediato
Técnica |
Instruções |
Benefícios Chave |
Fontes |
Respiração Diafragmática (Abdominal) |
Inspire lentamente contando até 4, enchendo a
barriga (não o peito). Expire lentamente, contando até 4 novamente. Mantenha
a concentração nesses passos até a respiração estabilizar. |
Previne a hiperventilação, acalma o sistema nervoso,
controla sintomas respiratórios. |
|
Técnica 4-7-8 |
Inspire por 4 segundos, prenda a respiração por 7
segundos e expire por 8 segundos. |
Ótimo exercício para controlar a ansiedade em pouco
tempo. |
|
Respiração Lenta e Profunda (Geral) |
Concentre-se em respirar lentamente para dentro e
para fora, contando até 5. |
Ajuda a acalmar o sistema nervoso e a focar a
atenção. |
|
Esta tabela é valiosa por fornecer instruções claras e
acionáveis, essenciais durante um momento de pânico. As técnicas de respiração
são acessíveis universalmente, podendo ser realizadas em qualquer lugar, e seu
impacto fisiológico direto na prevenção da hiperventilação e no acalmamento do
sistema nervoso é crucial. Ao dominar essas práticas, o indivíduo ganha uma
sensação de agência e controle sobre a resposta do próprio corpo.
Técnicas de Grounding (Enraizamento)
para focar no presente
As técnicas de grounding são estratégias de
enfrentamento projetadas para ajudar a lidar com situações desafiadoras que
causam desorganização emocional, como ataques de pânico. Elas funcionam
direcionando a atenção para o momento presente, focando tanto nas sensações
corporais básicas quanto no ambiente ao redor. Essas técnicas são extremamente
úteis durante um ataque de pânico para interromper pensamentos persistentes e
limitantes.
Um ataque de pânico é frequentemente exacerbado por um
"turbilhão de pensamentos" e interpretações catastróficas. As
técnicas de grounding, especialmente aquelas que envolvem os sentidos, forçam o
cérebro a desviar seu foco da ruminação interna e impulsionada pelo medo para a
realidade externa e concreta. Essa "tarefa simples" proporciona uma âncora
cognitiva, interrompendo o ciclo de pensamentos ansiosos que "joga
gasolina na fogueira". Isso é crucial porque aborda diretamente o
componente cognitivo do pânico, fornecendo uma maneira prática e imediata de
recuperar a clareza mental e evitar a escalada do medo impulsionada por
pensamentos distorcidos.
A técnica mais conhecida é a 5-4-3-2-1: Após
forçar uma respiração lenta e profunda, nomeie: 5 coisas que você pode ver, 4
coisas que você pode sentir, 3 coisas que você pode ouvir, 2 coisas que você
pode cheirar e 1 coisa que você pode saborear. Outros métodos de grounding
incluem focar em sensações físicas (como sentir os pés no chão ou segurar um
objeto texturizado), provar doces ou chicletes com sabor de menta, ou tocar
algo macio.
Relaxamento Muscular Progressivo
Durante um ataque de pânico, o corpo frequentemente se
tensiona como parte da resposta de "luta ou fuga". Essa tensão física
pode exacerbar o desconforto e reforçar a sensação de estar fora de controle. O
relaxamento muscular progressivo aborda diretamente essa tensão, ensinando o
corpo a relaxar ao engajar e depois liberar conscientemente a tensão em vários
grupos musculares. Por exemplo, pode-se contrair os punhos por 10 segundos e
depois relaxá-los por outros 10 segundos, repetindo o processo em todos os
principais grupos musculares, como pernas, glúteos, abdômen, costas, mãos,
braços, ombros, pescoço e rosto. Essa técnica oferece uma contra-resposta
física direta à reação de pânico do corpo, proporcionando uma ação concreta que
pode reduzir os sintomas físicos e contribuir para uma sensação de calma e
controle.
Estratégias Cognitivas:
Reinterpretando pensamentos e distraindo a mente
Além das técnicas físicas, as estratégias cognitivas
são cruciais para gerenciar um ataque de pânico, pois visam reorientar a mente
e desafiar os pensamentos distorcidos que alimentam o medo.
- Desafiar
Pensamentos Negativos: Lembre-se de que os sentimentos são temporários
e não ameaçam a vida. É útil substituir pensamentos como "Não consigo
lidar com isso" por afirmações como "Isso vai passar".
- Focar
em um Objeto:
Concentre o olhar em um objeto específico ao seu redor e tente captar suas
características (cor, padrão, tamanho) para desviar a atenção da situação
que causou o ataque.
- Pensamento
Positivo/Visualização: Pensar em situações positivas e felizes ajuda a
contrariar o medo e a criar uma sensação de calma e tranquilidade. A
imaginação guiada, visualizando um lugar tranquilo e adicionando detalhes,
também pode ajudar a recuperar o autocontrole.
- Aceitação: Resista ao impulso de lutar ou
resistir aos sintomas, pois essa resistência geralmente os intensifica. Em
vez disso, pratique a aceitação, lembrando-se de que é um ataque de
pânico, é desconfortável, mas vai passar.
- Distração: Envolva-se em tarefas simples
para distrair a mente, como conversar com alguém, cantar uma música,
contar repetidamente até dez, desenhar ou fazer listas. Isso ajuda a
quebrar o "milhão de pensamentos simultâneos" que agravam a
sobrecarga emocional.
- Definir
um Plano: Ter
uma solução ou estratégia pré-pensada, mesmo que seja apenas sentar-se ou
ligar para alguém que possa ajudar a acalmar, cria uma sensação de
segurança e funciona como uma "âncora à realidade".
Embora essas estratégias cognitivas sejam ferramentas
de enfrentamento imediatas, sua aplicação consistente durante os ataques
contribui para a reestruturação cognitiva a longo prazo. Ao desafiar
repetidamente os pensamentos catastróficos – como a ideia de que "o medo
não é real" – e provar a si mesmo que o ataque passa, o cérebro aprende a
corrigir interpretações exageradas dos sintomas físicos. Esse processo, central
na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), ajuda a reduzir a ansiedade
antecipatória e os comportamentos de evitação ao longo do tempo. Cada aplicação
bem-sucedida de uma estratégia cognitiva não se trata apenas de sobreviver ao
ataque atual, mas de construir resiliência e modificar os padrões de pensamento
subjacentes que contribuem para o transtorno do pânico.
Dicas Práticas para o Momento da
Crise
Algumas ações práticas podem ser tomadas para garantir
a segurança e facilitar o manejo durante um ataque:
- Permanecer
no mesmo local: Dada a
falta de controle físico e emocional, tente acalmar-se até que o episódio
passe – porque ele vai passar – para evitar acidentes, sobretudo se
estiver a conduzir.
- Buscar
um local seguro/calmo: Procure rapidamente um local onde você se sinta
seguro, ou um ambiente fresco e calmo.
- Sentar-se,
se possível: Se
houver um lugar para sentar, faça-o.
- Informar
alguém de confiança: Se você tiver alguém a quem possa dizer que está
tendo um ataque de pânico, faça-o, pois essa pessoa poderá ajudar a
acalmar e a lidar melhor com a situação.
- Tomar
medicação prescrita (se aplicável): Se você já estiver em tratamento e tiver
medicação para ataques de pânico (SOS), tome-a com serenidade e sem gestos
bruscos.
O conselho de "permanecer no mesmo local" ou
"buscar um local seguro/calmo" e "sentar" visa criar um
"contêiner seguro" físico e psicológico para a crise. Isso reduz
estímulos externos e o risco de acidentes, permitindo que o indivíduo se
concentre apenas nos mecanismos de enfrentamento internos. Informar alguém
adiciona uma camada externa de suporte, reduzindo a sensação de isolamento e
proporcionando tranquilidade. Essas dicas práticas abordam o contexto ambiental
e social imediato de um ataque de pânico, o que pode influenciar
significativamente sua intensidade e resultado, visando a redução de danos e a
criação de condições ideais para que as estratégias de enfrentamento sejam
eficazes.
3. Após a Crise: Cuidado e Recuperação
A fase pós-crise é tão importante quanto o manejo
durante o ataque, pois um ataque de pânico é um evento fisiológico e emocional
de alta intensidade, que consome uma energia significativa do corpo e pode
levar à exaustão física e mental. O impacto emocional também pode ser
substancial. Portanto, o cuidado pós-crise não é apenas sobre conforto, mas
sobre a recuperação fisiológica e a regulação emocional.
Importância do autocuidado e
descanso
Após um ataque de pânico, é crucial prestar atenção às
necessidades do seu corpo. Você pode sentir a necessidade de descansar em um
local tranquilo, ou comer e beber algo. É comum que o corpo se sinta
"cansado e exausto" depois que os sintomas diminuem. Normalizar essa
sensação de exaustão e fornecer passos práticos para a reposição física e
mental reforça a ideia de autocompaixão e que o processo de recuperação se
estende além da fase aguda.
Como buscar e aceitar apoio
Se você se sentir capaz, pode ser muito útil informar
alguém de confiança que teve um ataque de pânico. Pode ser particularmente útil
mencionar como essa pessoa pode perceber se você estiver tendo outro ataque e
como você gostaria que ela o ajudasse. Ataques de pânico podem levar ao
isolamento social devido ao medo de episódios em público. Incentivar a
comunicação com indivíduos de confiança e fornecer orientações sobre como
outras pessoas podem ajudar contraria diretamente essa tendência ao isolamento,
transformando uma experiência potencialmente isoladora em uma oportunidade de
conexão e suporte.
Se você estiver diante de alguém que está tendo um
ataque de pânico, ajude-o a ficar calmo. Conduza a pessoa para um local
tranquilo, fale de forma clara e incisiva, e dê instruções simples. Se você
souber qual medicação de SOS a pessoa toma, administre-a com serenidade e sem
gestos bruscos. É fundamental que você assuma uma postura de tranquilidade e
confiança para ajudar a acalmar a pessoa.
4. Prevenção e Gestão a Longo Prazo:
Construindo Resiliência
A gestão a longo prazo dos ataques de pânico foca em
reduzir sua frequência e intensidade, promovendo um bem-estar mental duradouro.
Isso envolve uma compreensão aprofundada dos gatilhos e a adoção de estratégias
proativas.
Identificação e Manejo de Gatilhos
Comuns
Os gatilhos comuns para ataques de pânico são variados
e podem incluir estresse, abuso de substâncias (como drogas e álcool),
estimulantes (como cafeína), memórias de traumas, relacionamentos tóxicos e o
uso de certos medicamentos. É crucial entender que o próprio medo de ter outro
ataque, especialmente em locais públicos, pode se transformar em um gatilho,
levando a comportamentos de evitação e isolamento.
Há uma interação complexa entre estressores externos e
estados internos que atuam como gatilhos. A resposta natural a esses gatilhos é
frequentemente a evitação, que, paradoxalmente, alimenta o ciclo de pânico a
longo prazo. Essa evitação sistemática pode levar à redução da qualidade de
vida e ao desenvolvimento de agorafobia. Identificar os gatilhos pessoais é o
primeiro passo para quebrar esse ciclo.
Como Identificar Gatilhos Pessoais: Reconhecer os próprios gatilhos
emocionais é um exercício de autoconhecimento. Começar um diário para anotar
quando a ansiedade é perceptível e registrar o que se acredita ter levado ao
gatilho pode ser muito útil. Sintonizar-se com os próprios sentimentos
precocemente pode ajudar a identificar a ansiedade antes que ela escale.
Trabalhar com um terapeuta também pode ser fundamental, pois especialistas em saúde
mental têm o treinamento necessário para ajudar a identificar gatilhos que
podem ser difíceis de reconhecer por conta própria.
Manejo de Gatilhos:
- Estresse: Pratique o autocuidado e
desenvolva métodos eficazes para responder ao estresse, como respirar
profundamente ou afastar-se temporariamente de uma situação estressante
para coletar os pensamentos.
- Abuso
de Substâncias:
Elimine o uso de substâncias como drogas e álcool e siga o tratamento
psiquiátrico e psicológico. Em alguns casos, pode ser necessário buscar a
ajuda de instituições especializadas para cessar a ingestão e desenvolver
bons hábitos. Limitar o consumo de cafeína também é importante, pois é um
estimulante que pode aumentar a frequência cardíaca e a ansiedade.
- Evitação: Embora pareça protetora a
curto prazo, a evitação de situações temidas pode alimentar o ciclo de
pânico a longo prazo. Uma abordagem eficaz é a exposição gradual a essas
situações, que ajuda a dessensibilizar o cérebro e o corpo, reduzindo o
medo.
Gatilhos Comuns e Estratégias de Manejo
Gatilho Comum |
Descrição |
Estratégias de Manejo |
Estresse |
Principal gatilho e agravante para muitas condições
de saúde mental. |
Praticar autocuidado, desenvolver métodos para
responder bem ao estresse (ex: respiração profunda, afastar-se
temporariamente). |
Abuso de Substâncias (Álcool, Drogas, Cafeína,
Estimulantes) |
Interferem no equilíbrio da química cerebral e na
comunicação dos neurotransmissores. |
Cortar o uso, seguir tratamento
psiquiátrico/psicológico, buscar instituições especializadas se necessário.
Limitar cafeína. |
Medo de Futuros Ataques / Evitação |
O próprio medo de ter uma nova crise se torna um
gatilho, levando ao isolamento e agorafobia. |
Praticar aceitação dos sintomas, lembrando que
passarão. Enfrentar gradualmente situações temidas (exposição gradual).
|
Situações Sociais Estressantes |
Podem gerar ansiedade e desconforto emocional.
|
Desenvolver habilidades de enfrentamento, praticar
respiração profunda ou relaxamento antes/durante. |
Memórias de Traumas / Relacionamentos Tóxicos /
Certos Medicamentos |
Podem desencadear crises de pânico. |
A identificação e o manejo são individuais e
requerem acompanhamento profissional para explorar a raiz desses gatilhos.
|
Como Identificar Gatilhos Pessoais |
Manter um diário, trabalhar com um terapeuta,
sintonizar-se com os próprios sentimentos para identificá-los precocemente.
|
Esta tabela muda o foco do enfrentamento reativo para
a prevenção proativa, categorizando os gatilhos comuns e fornecendo estratégias
específicas e acionáveis para cada um. Essa abordagem mais direcionada capacita
os indivíduos a assumir o controle de sua condição, reforçando que os ataques
de pânico são influenciados por uma combinação de fatores de estilo de vida,
psicológicos e ambientais, exigindo, portanto, uma abordagem multifacetada para
o manejo a longo prazo.
Adoção de um Estilo de Vida Saudável
(exercício, dieta, sono)
Prevenir episódios de pânico envolve, sobretudo,
mudanças no estilo de vida. Embora essas mudanças não garantam a não ocorrência
de crises, elas podem reduzir significativamente a probabilidade ou a
intensidade dos ataques. O bem-estar físico está profundamente interligado com
a regulação fisiológica e a saúde mental, sendo um pilar fundamental para a
resiliência.
- Exercício
Físico: A
prática de exercício físico moderado e regular é crucial para reduzir os
níveis de estresse e ansiedade. Exercícios aeróbicos, como caminhar,
correr e andar de bicicleta, são excelentes, pois aumentam o ritmo
cardíaco e promovem a circulação de oxigênio, melhorando o funcionamento
do sistema nervoso e reduzindo respostas exageradas a estímulos estressantes.
Eles também promovem estabilidade emocional e melhoram a qualidade do
sono. Exercícios de resistência, como levantamento de peso e treinamento
funcional, fortalecem o corpo e desenvolvem uma sensação de poder e
controle pessoal, elevando a autoconfiança. A atividade física regular
pode até ajudar o corpo a aprender a controlar o pânico ao mimetizar
sensações como taquicardia e sudorese de forma positiva, construindo
resiliência.
- Dieta
Equilibrada: Manter
uma dieta equilibrada é fundamental para a saúde mental geral. Evitar
pular refeições também é importante, pois flutuações nos níveis de açúcar
no sangue podem afetar o humor e a ansiedade.
- Sono
Adequado:
Gerenciar a qualidade e a quantidade de tempo de sono é crucial para
prevenir ataques de pânico, pois a privação de sono pode aumentar a
vulnerabilidade ao estresse e à ansiedade.
- Limitação
de Substâncias:
Conforme mencionado, limitar o consumo de álcool e cafeína é importante,
pois podem atuar como estimulantes e aumentar a ansiedade.
O Papel do Mindfulness e da Atenção
Plena
A prática de mindfulness, ou atenção plena, é uma
ferramenta eficaz para melhorar o autocontrole diante das crises de ansiedade e
pânico. Ela ajuda a reduzir a preocupação excessiva e é eficaz para diversos
transtornos de ansiedade, incluindo a síndrome do pânico.
Ataques de pânico são frequentemente alimentados por
interpretações catastróficas e uma confusão entre perigo real e ameaça
percebida. O mindfulness, através do "descentramento", ensina os
indivíduos a observar seus pensamentos e sensações sem se identificar
imediatamente com eles como "fatos". Essa habilidade metacognitiva
permite uma pausa crucial, criando espaço para desafiar a resposta automática
de medo e reinterpretar os sintomas. É uma estratégia proativa que constrói
resiliência mental ao longo do tempo, alterando fundamentalmente a relação do
indivíduo com pensamentos ansiosos e sensações físicas, e reduzindo seu poder
de desencadear e escalar o pânico. Um exercício simples de mindfulness, similar
à técnica 5-4-3-2-1, envolve listar: 5 coisas que você pode ver, 4 coisas que
você pode tocar, 3 coisas que você pode ouvir, 2 coisas que você pode cheirar e
1 coisa que você pode saborear.
Abordagens Terapêuticas: Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC) e Exposição
Para o manejo a longo prazo e a prevenção de ataques
de pânico, as abordagens terapêuticas desempenham um papel central. A
recorrência de ataques de pânico e o desenvolvimento do transtorno do pânico
são frequentemente impulsionados pelo medo dos sintomas e pela subsequente
evitação. A TCC e a terapia de exposição visam diretamente esses mecanismos.
- Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC): Considerada o tratamento de primeira linha para
o Transtorno do Pânico. A TCC tem como objetivo ajudar os pacientes a
identificar e modificar padrões de pensamento negativos e distorcidos que
contribuem para os ataques de pânico. Ela auxilia os pacientes a
desenvolver estratégias para entender e gerenciar a ansiedade.
- Terapia
de Exposição (Exposição Interoceptiva e In Vivo): Um componente fundamental da
TCC. Esta abordagem visa corrigir as interpretações catastróficas dos
sintomas físicos, expondo gradualmente os pacientes às sensações que temem
(exposição interoceptiva) ou às situações que evitam (exposição in vivo). Exemplos
de exposição interoceptiva incluem induzir tontura girando uma cadeira ou
hiperventilação por um minuto. Isso ajuda os pacientes a se sentirem
confortáveis com as sensações e a reduzir comportamentos de evitação, que
são comuns no Transtorno do Pânico. A terapia de exposição dessensibiliza
sistematicamente o indivíduo a sensações e situações temidas, quebrando o
ciclo de evitação. Concomitantemente, a reestruturação cognitiva, um pilar
da TCC, ajuda os indivíduos a reformular suas interpretações catastróficas
dos sintomas. Essa abordagem dupla aborda tanto os componentes
comportamentais quanto os cognitivos, levando a uma mudança mais profunda
e duradoura.
- Terapia
Combinada: O
tratamento frequentemente combina medicamentos antidepressivos e ansiolíticos
com psicoterapia, geralmente conduzida por um médico psiquiatra. Estudos
recentes mostraram que a combinação de medicação e TCC tem demonstrado
bons resultados. Esta seção explica como a terapia profissional funciona
além de apenas "conversar", destacando a natureza ativa e
estruturada da TCC e da exposição, o que pode motivar o leitor a buscar
ajuda profissional.
5. Quando e Onde Procurar Ajuda
Profissional
Embora ataques de pânico isolados sejam comuns e
frequentemente se resolvam sem tratamento , é fundamental saber quando buscar
apoio especializado. O limiar crítico para procurar ajuda profissional é quando
os ataques (ou o medo deles) começam a interferir significativamente na vida
diária ou a prejudicar o dia a dia, levando a restrições importantes nas
atividades e na qualidade de vida.
Sinais de que é necessário buscar
apoio especializado
A necessidade de apoio profissional é indicada pelos
seguintes sinais:
- Frequência
e Impacto: Se os
ataques de pânico forem frequentes, interferirem na sua vida diária ou
causarem preocupação excessiva com futuros ataques.
- Intensidade
dos Sintomas: Se os
sintomas forem intensos ou frequentes, com ou sem ataques de pânico
associados.
- Comportamentos
de Evitação: Se
você estiver evitando lugares, atividades ou situações devido ao medo de
desencadear um ataque, resultando em restrições significativas nas
atividades diárias e na qualidade de vida.
- Busca
por Reasseguramento: Se você estiver buscando constantemente
garantias ou adotando comportamentos de segurança (por exemplo, carregar
medicamentos de emergência) na tentativa de evitar ou lidar com os
ataques.
- Prejuízo
no Dia a Dia: Se as
crises começarem a prejudicar o seu cotidiano, por exemplo, se forem muito
frequentes ou gerarem um medo que afete a sua rotina.
Esses critérios fornecem uma avaliação clara e
acionável para o usuário, indo além do desconforto subjetivo para o impacto
objetivo na qualidade de vida, tornando a decisão de buscar ajuda mais concreta
e menos intimidante.
Profissionais de Saúde Mental
(Psicólogo e Psiquiatra) e opções de tratamento
O tratamento comumente adotado contra o Transtorno do
Pânico alia a psicoterapia e a medicação, envolvendo o trabalho de dois
profissionais principais:
- Psiquiatra: É um médico especializado no diagnóstico
e tratamento de transtornos psiquiátricos. Ele pode prescrever
medicamentos, como antidepressivos e ansiolíticos, que ajudam a gerenciar
os sintomas agudos.
- Psicólogo: Foca na melhora da saúde
emocional, com o objetivo de evitar novos episódios através da
psicoterapia, frequentemente aplicando a Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC).
A abordagem mais comum e frequentemente mais eficaz é
a combinação de psicoterapia (especialmente TCC) e medicação. Essa não é
apenas a soma de dois tratamentos separados, mas uma abordagem sinérgica. A
medicação pode ajudar a gerenciar os sintomas agudos, tornando o indivíduo mais
receptivo e capaz de se engajar na psicoterapia, que então aborda os padrões
cognitivos e comportamentais subjacentes. Essa abordagem integrada tem
demonstrado bons resultados e auxilia no controle a longo prazo, mesmo que não
seja uma "cura completa" para o transtorno, mas sim um problema que
pode ser controlado. A duração do tratamento pode variar de meses a anos, dependendo
da intensidade da condição.
Muitas vezes, o primeiro profissional a ser consultado
em quadros de origem emocional ou psicológica é o próprio psicólogo. Havendo a
necessidade de medicação, o psicólogo pode encaminhar para um psiquiatra.
Buscar ajuda profissional não é um sinal de fraqueza, mas um passo estratégico
em direção a um manejo abrangente e eficaz.
Conclusão
Os ataques de pânico são experiências intensas e
assustadoras, mas que, fundamentalmente, não representam perigo de vida.
Compreender sua natureza, que reside num "alarme" cerebral que
dispara sem uma ameaça real, é o primeiro passo para desmistificar o medo.
Embora os sintomas físicos possam mimetizar condições médicas graves, a chave
para o manejo reside em reconhecer a origem psicológica e aplicar estratégias
direcionadas.
Durante a crise, a capacidade de intervir ativamente
através de técnicas de respiração e grounding permite que o indivíduo retome o
controle fisiológico e cognitivo, interrompendo o ciclo de escalada do medo.
Após o episódio, o autocuidado e a busca por apoio de pessoas de confiança são
essenciais para a recuperação e para quebrar o ciclo de isolamento.
A longo prazo, a resiliência é construída através da
identificação e manejo de gatilhos pessoais, da adoção de um estilo de vida
saudável que inclua exercício, dieta e sono adequado, e da prática de
mindfulness para cultivar a consciência metacognitiva. Quando os ataques
começam a interferir na vida diária, a busca por apoio profissional se torna
crucial. A combinação de psicoterapia, especialmente a Terapia
Cognitivo-Comportamental e a terapia de exposição, com a medicação, oferece uma
abordagem sinérgica e eficaz para o controle e a gestão do transtorno do
pânico. Com conhecimento e as ferramentas certas, é possível navegar por essa
condição e construir uma vida com maior bem-estar e controle.