Pedidos de auxílio-desemprego nos EUA aumentam: 248.000

 

Pedidos de auxílio-desemprego nos EUA aumentam: 248.000 solicitações elevam média móvel ao maior nível desde 2023

Washington, 12 de junho de 2025

Os Estados Unidos registraram um aumento considerável no número de pedidos de auxílio-desemprego, somando 248.000 solicitações na última semana, segundo dados divulgados pelo Departamento do Trabalho norte-americano. Esse volume elevou a média móvel de quatro semanas para o seu ponto mais alto desde agosto de 2023, acendendo alertas sobre a resiliência do mercado de trabalho no país e possíveis desacelerações econômicas à vista.

Sinais de desaquecimento no mercado de trabalho americano

Embora os níveis atuais de pedidos de auxílio-desemprego permaneçam historicamente abaixo dos picos observados durante crises econômicas anteriores, o aumento progressivo nos últimos dois meses sugere que o mercado de trabalho norte-americano pode estar começando a perder fôlego. Economistas observam que, apesar do desemprego ainda estar em níveis baixos, o número crescente de demissões em setores como tecnologia, finanças e varejo indica um possível realinhamento pós-pandemia.

O Departamento do Trabalho também destacou uma elevação nos pedidos contínuos — que incluem aqueles que já estão recebendo o benefício —, o que pode sinalizar maior dificuldade dos trabalhadores em recolocar-se rapidamente no mercado. Em particular, os estados da Califórnia, Nova York e Illinois lideraram os aumentos semanais, refletindo cortes de postos em empresas de médio e grande porte.

Causas estruturais e conjunturais do aumento

Especialistas dividem o fenômeno em dois eixos: causas estruturais, como a automação e mudanças no modelo de trabalho remoto; e fatores conjunturais, como a elevação dos juros e o arrefecimento dos estímulos fiscais pós-pandemia. A combinação de ambos pressiona empregadores a ajustar seus quadros de funcionários diante de uma demanda menos aquecida.

Segundo relatório do Conference Board, os setores mais afetados em maio foram os de tecnologia da informação, manufatura leve e logística urbana. Ao mesmo tempo, empresas de capital intensivo enfrentam dificuldades em manter equipes operacionais diante do encarecimento do crédito e do aumento dos custos de insumos.

Impactos econômicos e projeções futuras

O aumento nos pedidos de auxílio-desemprego é frequentemente observado pelos formuladores de política monetária como um dos principais indicadores antecedentes de recessão. Embora o Federal Reserve ainda mantenha sua política de juros altos como estratégia de contenção da inflação, esse novo dado pode influenciar uma reavaliação nas próximas reuniões.

Analistas de Wall Street, como o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, já revisaram suas projeções de crescimento do PIB norte-americano para o segundo semestre, citando entre os motivos a redução do consumo das famílias e a fragilidade do setor imobiliário.

Enquanto isso, investidores se voltam para ativos mais seguros, como títulos do Tesouro, ouro e o dólar, que valorizou levemente frente a outras moedas nesta quinta-feira. O S&P 500 registrou leve queda após a divulgação dos dados, refletindo o aumento da aversão ao risco.

Reações políticas e sociais

A repercussão dos dados também chegou ao campo político. Legisladores do Partido Democrata pressionam a Casa Branca a propor novos estímulos emergenciais para estados com maior número de demissões, enquanto representantes republicanos apontam os números como sinal de fracasso na condução econômica do governo.

O presidente da Câmara dos Deputados, em declaração nesta manhã, afirmou que o governo "deve focar em políticas que incentivem a criação de empregos sustentáveis e reduzir o peso regulatório sobre os pequenos empreendedores". Movimentos sindicais, por outro lado, pedem maior proteção ao trabalhador temporário e melhorias no acesso ao seguro-desemprego.

Comparações históricas e risco de recessão técnica

A última vez que a média móvel de quatro semanas ultrapassou esse nível foi em agosto de 2023, quando o país enfrentava incertezas sobre o teto da dívida e impasses no Congresso. Comparando com o período de 2008, embora o contexto seja diferente, a curva de alta dos pedidos começa a se parecer com os primeiros sinais da crise que eclodiu naquele ano.

Atualmente, com a taxa de desemprego ainda abaixo de 4%, a economia não entra em colapso — mas especialistas alertam que dois trimestres seguidos de desaceleração do PIB somados ao aumento do desemprego podem configurar uma recessão técnica, que afeta a confiança do investidor e o poder de compra das famílias.

O papel da tecnologia e da automação nas demissões

Com o avanço da automação e da inteligência artificial, muitos cargos operacionais e administrativos passaram a ser substituídos por soluções digitais. Plataformas de atendimento automatizado, inteligência analítica e algoritmos de RH tornam processos mais eficientes, porém causam também o enxugamento de equipes.

Relatórios de consultorias como McKinsey & Company e PwC indicam que até 2030, quase 30% das atividades em setores como atendimento ao cliente, serviços financeiros e logística poderão ser automatizadas. Isso coloca pressão não apenas sobre a criação de novos empregos, mas também sobre a capacitação dos trabalhadores para novas funções.

A precarização do emprego informal e os desafios da requalificação

Outro ponto preocupante é o aumento do trabalho informal ou por conta própria, sem vínculo empregatício estável. Apesar do crescimento do empreendedorismo digital, muitos trabalhadores recorrem a essa alternativa por falta de vagas formais. O problema é que esses empregos nem sempre garantem estabilidade financeira, benefícios ou proteção social.

Governos estaduais têm anunciado programas de requalificação profissional e apoio a microempreendedores, mas os resultados são desiguais. Algumas regiões mais industrializadas conseguem reintegrar trabalhadores com mais rapidez, enquanto áreas rurais ou menos desenvolvidas enfrentam maiores dificuldades.

O aumento dos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA é mais do que um dado estatístico: é um sinal concreto de que mudanças profundas estão ocorrendo no tecido econômico e social do país. Entre os fatores conjunturais e estruturais, o desafio está em adaptar políticas públicas e estratégias de negócios a uma nova realidade.

A capacidade de resposta do governo federal, a atuação do Federal Reserve, e a adaptação do setor produtivo à era digital serão determinantes para que os EUA enfrentem esse momento com resiliência e capacidade de regeneração econômica.


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